segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Cidade de pobres corações

Minha cidade é feia, minha cidade é suja. Cheira a atraso. Têm dois partidos políticos que se revezam no poder há muito tempo. São eles que patrocinam o atraso da minha cidade. Muita gente vai embora, a deixa para trás, não quer mais saber. Os que ficam falam mal dela até o dia dos seus últimos suspiros. Cruzam os braços e deixam que ela fique mais feia. Na minha cidade têm cinema, depois de mais de uma década. Mas pouca gente dá valor pra cultura na minha cidade.
Na minha cidade não têm lugar pra ir. Então todo mundo vai pra avenida. E na avenida todo mundo se divide, fazendo apartheid. Sim, na minha cidade têm apartheid. Em parte da avenida fica todo mundo que é invisível. Em outra parte ficam aqueles que pensam que são alguma coisa numa cidade que não tem nada. Filhos de uma falsa burguesia. Na outra e mais estreita parte, perto do álcool, ficam os pitboys. Isso só deixa a minha cidade mais feia ainda. As cidades vizinhas também são feias e sujas e dominadas pelos mesmos partidos.
Quem não está na avenida contemplando a divisão de classes numa cidade pobre e feia, está andando de carro. Andando em círculos pelo centro. Talvez nesse ciclo eterno procurem pelos seus cérebros, nunca usados e esquecidos em alguma parte da minha cidade. Alguns talvez pensem em maneiras de ter relações sexuais com seus carros.
Na minha cidade até o futebol só dura seis meses por ano. Ciclo vicioso que não muda e só piora. Os invisíveis não têm emprego e não têm instrução. São a maioria na minha cidade. Os que sobram, não enxergam os invisíveis e também não enxergam a feiúra da minha cidade. Minha cidade é feia, minha cidade é suja. Coitada da minha cidade, ela é triste e não sabe.

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