segunda-feira, 15 de março de 2010

Entrevista com Ziraldo


No dia 19 de setembro de 2009, o Ziraldo visitou o Colégio La Salle Carmo - um dos que trabalho - para o lançamento do Gibi da Turma no portal educacional. Como não estava no colégio neste dia, me informei para que pudesse ir ao encontro dele na maior cara de pau.

[Um tempo se passou...]

Enquanto aguardava o Ziraldo no hall do hotel em que ele estava hospedado, a imaginação rondava a minha cabeça. Era um momento mágico. Não podia deixar escapar a oportunidade de conhecer e entrevistar um dos maiores autores/desenhistas de todos os tempos. O nervosismo era notável. Coração acelerado, mãos suadas, pernas trêmulas e ansiedade, muita ansiedade.

Rolim , Joelho Juvenal, Bichinho da maçã, claro... o Menino Maluquinho... todos livros que eu li quando criança, que eu cataloguei na biblioteca, que eu indiquei e emprestei para alguns alunos e que depois de lidos, compartilhavam comigo aquela leitura. Comecei a pensar nessas questões e me emocionei de tal maneira que nunca havia me emocionando com qualquer outro autor...

Enfim, chega de chororo e vamos a entrevista com o nosso queridíssimo Ziraldo.

Clarissa - Conte-me como a ilustração surgiu na sua vida?
Ziraldo - Comecei a desenhar aos três anos de idade. Primeiro rabiscava casinhas, mas tinha muita obsessão pela arte. Tinha o dom e desenhava o dia inteiro. Tinha mania de desenhar no chão, de usar os papeis de embrulho que entravam em casa. Um dia, havia desenhado um tatu e meu pai enviou para a Folha de Minas e foi a partir daí que eu passei a me comprometer com o desenho.

Clarissa - Como se deu a criação do jornal O Pasquim?
Ziraldo - Fundado inicialmente por Jaguar, Tarso de Castro e Sérgio Cabral, O Pasquim era um jornal de protesto para que nós pudéssemos expor a nossa indignação e insatisfação com os acontecimentos políticos da época, a ditadura militar. O jornal era irreverente, com uma pitada de humor. Tratava questões comportamentais, mas foi se tornando mais politizado à medida em que aumentava a repressão no AI-5. Os censores impunham vários cortes aos textos e às sátiras humorísticas, mas sempre havia um jeito de burlarmos a censura.

Clarissa - E a revista Bundas?
Ziraldo - Um vez estava passando por uma banca de jornal e, de repente, vi um homem com uma cara ingênua, de frente para várias revistas de bunda (playboy, etc), perguntar ao jornaleiro se tinha caras. Achei muito curioso esse fato e refleti sobre o assunto. Então, a Bundas era uma paródia à revista Caras. "Quem mostra a bunda em Caras não mostra a cara em Bundas".

Clarissa - Dentre todas as suas habilidades qual você curte mais: caricatura, hq, etc?
Ziraldo - Eu adoro o desenho em geral, mas as HQ's (histórias em quadrinhos) são transformadoras por permitirem a leitura de uma maneira diferente, dinâmica. As HQ's são mais participativas por ser quadro-a-quadro, diferententemente do teatro, cinema e até mesmo, da própria prosa, uma vez que essas artes não mexem com a imaginação já que elas acontecem e mostram a cena como ela é. Infelizmente, no meu tempo de criança as HQ's não eram recomendadas pelos padres por ser consideradas pecados, passando a ser mais aceito ao se tornar cultura de massa. As HQ's variam de lugar para lugar. Na França são lidas mais pelo público adulto. No Brasil, as HQ's são destinadas mais ao público infantil por serem mais ingênuas e haver mais sucesso.

Como não tive muito tempo com o autor, que cedeu um pouco dele para me atender, ainda questionei sobre o que ele achou sobre o filme "O Menino Maluquinho" e ele disse que a edição seguiu fielmente a escrita do livro. Foi muito gostoso o trabalho no cinema e que o propósito de falar de uma criança feliz que era um cara legal.

E ele finalizou o nosso momento perguntando qual era a obra que eu mais gostava e eu disse o corpim, pelo fato de achar legal um joelho conversar com o outro, um umbingo, os dedinhos, enfim... marcou minha infância e, com certeza, marcará a de muitas crianças. Além do Menino Maluquinho,... que eu ganhei no final desse bate-papo.



Finalizo o post com essa indicação de leitura do Audálio Dantas, com a coleção a infância de... vale a pena!